terça-feira, 22 de junho de 2010

KOZERIANA

este poema não é para a multidão
que cultiva esperanças pelos filhos
é para o poeta que vive apertado numa quitinete
e escreve furiosamente, desesperadamente,
enquanto os colegas o olham
dirigindo picapes dois andares acima da rua.
para quem traduz eurípedes,
hic et nunc.
não é para quem, por elegância,
corta a flexão plural e os artigos,
lendo joão cabral
como hamlet conversava com a caveira.
Furiosamente, especularmente,
o ato de criação é vertiginoso
e implica desobedecer
ao sonetismo, ao haicaismo, ao tenentismo
de obter pdh para lançar a obra de vanguarda.
em Miami o poeta saboreia ceviche com agregados desempregados
enquanto em Curitiba o escritor oficial
ouve, chacoalhando na picape,
as experiências da colega chacoalhada na picape.
Vivemos todos no mesmo mundo
no mesmo tempo e espaço
mas não inspirados por igual.
uns se coroam ou coroam os seus,
sem importar-se em que mundo vive,
em que tempo
em que espaço.